Por Leila Navarro
É manhã de segunda-feira. Você acordou já atrasado e tem de correr para um compromisso de trabalho. Para ganhar tempo, toma café enquanto se veste, escova os dentes enquanto reúne a papelada da reunião. Pega as chaves do carro, o celular, a tralha toda… Ótimo, você economizou tempo. Está ameaçando chuva e o trânsito promete ser complicado, mas se você pegar alguns atalhos poderá chegar no horário. Tudo sob controle. Você liga o carro e ele faz um barulho estranho, um engasgo, e morre. Essa não. Você liga de novo e o carro não pega. Não é possível. Tenta outra vez, o resultado é o mesmo. Droga de carro!
Logo em uma segunda-feira, dia de uma reunião crucial para a sua vida, o maldito carro não pega. Você não entende nada de mecânica, mas abre o capô assim mesmo – quem sabe ele pega agora. Xinga, chuta o pneu, não acredita que uma coisa dessa possa estar acontecendo. Sua perplexidade com o carro enguiçado é tamanha que você não consegue pensar em uma alternativa para chegar à reunião. Em vez de ligar para o escritório e avisar que irá atrasar ou sair pela rua em busca de um táxi, perde tempo com um ataque de nervos. O carro continua enguiçado, pois ele não está nem aí para o seu problema, você ainda está em casa e a reunião começará sem a sua presença.
Se é assim que você lida com seus problemas, é óbvio porque a vida não flui. Enquanto concentra atenção na questão em si, você trava tudo. O problema não se resolve, você não consegue encontrar uma solução para sair do impasse e ainda esgota sua energia com um ataque de nervos que não leva a nada. Isso não funciona, concorda?
Se você quiser encontrar soluções para o seu problema, precisa aprender a distanciar-se dele. Sabe aquelas cenas dos filmes em que a câmera focaliza um rosto e então começa a se afastar, mostrando cada vez mais o cenário em volta da pessoa? Distanciar-se do problema é mais ou menos isso. É preciso deixar de olhar só para aquilo e ampliar sua percepção para as opções que você tem.
No caso do carro, por exemplo. Em vez de ficar ali, praguejando, você deveria se “desidentificar” com a situação e restabelecer a calma. Então perceberia que o tempo estava passando e sua prioridade não era fazer o carro andar, mas chegar à reunião. Você logo pensaria em tomar um táxi, pedir a alguém de casa que o levasse ao trabalho ou, como último recurso, ligar para o escritório e avisar sobre o atraso. Enquanto estivesse a caminho, poderia ligar para o socorro mecânico e pedir que alguém fosse ver o carro. No final do dia, depois de uma reunião proveitosa-– porque você estaria calmo e despreocupado –, voltaria para casa e encontraria o carro consertado.
Agora, se você ficasse investindo tempo e energia no dilema do carro quebrado, poderia perder a reunião ou chegar atrasado, esbaforido, mal-humorado e desequilibrado. O restante do seu dia provavelmente seria ruim, pois você já o começou com o pé esquerdo – e porque quis. E depois você não sabe por que a vida não flui, não é?
Outro benefício que o distanciamento mental e emocional traz é criar as condições para que você encontre uma solução criativa para o problema. Um bom exemplo disso foi a situação que se passou com um amigo dos meus filhos. Em uma das vezes em que esteve em casa, o rapaz contou as dificuldades que estava encontrando em seu novo emprego como analista de sistemas. “Aquela empresa é uma loucura. Tudo precisa ser feito para ontem, e há uma pressão enorme sobre os analistas para solucionar os problemas dos sistemas, fazer melhorias e desenvolver novos programas. Não consigo trabalhar desse jeito, acho que vou pedir demissão”, contava ele, chateado.
Tempos depois, ele reapareceu em casa com uma cara bem melhor. Disse que havia começado a fazer natação três vezes por semana para combater o estresse e, sem querer, descobriu um jeito de lidar com os problemas do trabalho. “Eu ia nadar para desfazer as tensões e tentava não pensar em nada, só contava minhas braçadas. No primeiro dia, senti o corpo relaxar um pouco. No segundo, achei que minha mente ficou mais leve. No terceiro, sem mais nem menos, tive um insight para resolver um problema que estava enfrentando”. Foi assim que o rapaz começou a entender que precisava se distanciar dos problemas para poder resolvê-los. Um pouco mais difícil foi aprender a fazer isso fora da água, já que ele não podia se jogar na piscina cada vez que ficava tenso para resolver alguma situação do trabalho. Mas só de tomar consciência de que precisava relaxar para solucionar seus “pepinos”, foi aos poucos aprendendo a lidar com a tensão na empresa e as coisas começaram a fluir melhor para ele.
Distanciar-se é parar de brigar com o problema e ampliar o foco de sua percepção, uma atitude que ajuda não só a resolver as pequenas situações que nos acontecem no dia-a-dia como também os grandes impasses da vida. Às vezes, quando falo sobre distanciamento para algumas pessoas, elas me dizem algo como: “Ah, Leila, mas eu queria ver você dizer isso se tivesse o problema que eu tenho! O meu é terrível”. Você mesmo pode estar pensando isso agora. Pois eu digo, com toda tranqüilidade, que não teria dificuldade em encontrar uma solução para o seu problema. Não porque eu seja tão poderosa, tão maravilhosa ou mágica, mas simplesmente porque é muito mais fácil a gente resolver os problemas dos outros do que os nossos. Claro! Não enxergamos os nossos porque estamos envolvidos demais, desperdiçando energia com queixas e desgastes; estamos ocupados em nos debater, não em resolver. O mesmo problema, visto por alguém de fora, é muito fácil de diagnosticar e resolver.
Repare como você logo pensa em uma solução quando uma pessoa começa a falar do problema dela. Em poucos minutos de conversa, já ataca de conselheiro e recita todas as palavras-chave do catecismo da automotivação. Curioso como você consegue ser tão eficiente na solução das questões alheias, mas não consegue fazer isso por si próprio, não? Já que é assim, experimente olhar para a situação que está vivendo como se ela fosse de outra pessoa. Isso também é uma forma de distanciamento que poderá ajudá-lo a encontrar a solução de que precisa.
Ainda assim, se você tiver dificuldade em fazer o distanciamento, pode valer a pena pedir ajuda. Não é à toa que existe tanto coach, consultor e facilitador para tudo que é assunto que se pode imaginar hoje em dia: as pessoas precisam de auxílio para lidar com seus problemas! Às vezes, abrir-se com um amigo que seja bom ouvinte é o suficiente Ao contar seus problemas para outra pessoa, você também se escuta – e pode, com isso, ter uma percepção nova da situação. Só não espere que aquele a quem você recorrerá possa resolver a questão por você, pois o máximo que ele poderá fazer é lhe mostrar o que você não está percebendo.
Note que é tudo uma questão de percepção, de ótica, de “como se olha”. Se você só focaliza o problema, só enxergará o problema. Mas se dá um passo atrás e abre as suas lentes com a intenção de ver mais, você se abre para enxergar mais – e a solução aparece.
Você tem resolvido ou complicado seus problemas?
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