A questão não é se as máquinas pensam, mas se nós, humanos, ainda pensamos…

A questão não é se as máquinas pensam, mas se nós, humanos, ainda pensamos…

Vivemos cercados por máquinas cada vez mais inteligentes, capazes de resolver problemas em segundos. Mas, no meio desse avanço vertiginoso, surge uma pergunta ainda mais urgente: e nós? A questão não é se as máquinas pensam, mas se nós, humanos, ainda pensamos.

Por Leila Navarro

O silêncio que perdemos

Você já parou para perceber quando foi a última vez que ficou em silêncio? Silêncio mesmo, sem notificação, sem tela, sem nada piscando ou vibrando ao seu redor? Eu me fiz essa pergunta outro dia e me assustei com a resposta. Ou melhor, com a falta dela.

Estamos vivendo uma revolução silenciosa. Enquanto discutimos os benefícios da Inteligência Artificial e eles são muitos, não me entendam mal, algo muito sutil está acontecendo conosco. Estamos nos esquecendo de como é ser humano. Simplesmente humano.

A pressa que consome

A China nos mostra um futuro possível: crianças de seis anos aprendendo a “colaborar” com máquinas antes mesmo de descobrirem quem são. Escolas onde algoritmos conhecem os alunos melhor que seus próprios professores. Um mundo onde a eficiência reina absoluta, mas onde fico me perguntando: sobrou espaço para o mistério? Para o inexplicável? Para aquilo que nos faz únicos?

Há uma pressa no ar. Uma urgência de implementar, de otimizar, de acelerar. A China corre. O mundo corporativo corre. Todos corremos. Mas para onde, exatamente?

Lembro-me de uma conversa com uma professora que me disse: “Meus alunos não conseguem mais ficar cinco minutos sem consultar o celular. Não é vício, é como se eles tivessem medo do próprio pensamento.” Isso me tocou profundamente. Medo do próprio pensamento. Quando foi que chegamos a esse ponto?

Vejo crianças brincando com tablets em vez de terra. Adolescentes preferindo conversas com chatbots a conversas com amigos porque os chatbots não julgam, não se irritam, não têm dias ruins. São perfeitos. Mas será que queremos perfeição nos nossos relacionamentos? Será que não é justamente na imperfeição, na imprevisibilidade, no caos humano que encontramos a beleza da vida?

Há algo que me preocupa profundamente: estamos perdendo nosso corpo. Não fisicamente, claro, mas estamos nos desconectando dele. Vivemos cada vez mais na nossa cabeça, em telas, em mundos virtuais. E o corpo? O corpo que sente, que se arrepia, que precisa de movimento, de toque, de presença?

Geração de cabeças flutuantes

Uma amiga me contou que seu filho de oito anos prefere “viajar” pelo Google Earth a ir ao parque. “É mais interessante”, ele disse. Mais interessante que sentir o vento no rosto? Que ouvir os pássaros? Que se sujar de terra?

Estamos criando uma geração de cabeças flutuantes. Cérebros conectados, corpos esquecidos. E isso me assusta porque é no corpo que mora nossa humanidade. É através dele que sentimos empatia, que nos conectamos com o outro, que experimentamos a vida em toda sua intensidade.

A China nos oferece um espelho. Um espelho do que podemos nos tornar se não pararmos para refletir. Lá, a eficiência é rei. Algoritmos decidem, otimizam, personalizam. E funciona. Os resultados são impressionantes. Mas a que custo?

Imagino uma criança chinesa de dez anos, brilhante em matemática graças à IA, capaz de resolver problemas complexos com ajuda algorítmica, mas que nunca ficou deitada na grama olhando as nuvens e inventando histórias. Que nunca se perdeu em pensamentos próprios. Que nunca experimentou o tédio criativo que nos leva às melhores descobertas sobre nós mesmos.

Não estou romantizando o passado. Sei que a tecnologia trouxe benefícios imensos, mas estou questionando o preço. Estou perguntando se não estamos pagando com nossa alma. Eu te pergunto: o que estamos perdendo?

O que estamos perdendo?

Estamos perdendo a capacidade de estar presentes. De verdade presentes. Aquela presença que sente o momento, que se conecta com o aqui e agora, que não precisa de estímulo externo para existir. Peerdendo a contemplação. Aqueles momentos de não fazer nada, de simplesmente ser. Momentos que, paradoxalmente, são quando mais crescemos, quando mais nos conectamos conosco mesmos.

Estamos perdendo a imperfeição. E a imperfeição é linda. É humana. É real. Quando tudo é otimizado, personalizado, perfeito, onde fica o espaço para o inesperado? Para o erro que vira descoberta? Para o acaso que muda tudo? Estamos perdendo o silêncio. E é no silêncio que ouvimos nossa voz interior. É onde encontramos nossas respostas. É onde nos reconhecemos.

Resistir com humanidade

Mas calma, nem tudo está perdido. Podemos resistir. Não com raiva, não rejeitando a tecnologia, mas com consciência. Com escolhas deliberadas. Com pequenos atos de humanidade. Que tal começarmos por nós mesmos? Que tal criarmos momentos sagrados de desconexão? Cinco minutos de silêncio pela manhã. Uma caminhada sem celular. Uma conversa olho no olho, sem pressa.

Que tal ensinarmos nossas crianças que é bonito se entediar? Que é no tédio que nasce a criatividade. Que é normal não saber todas as respostas na ponta da língua. Que é humano errar, duvidar, se perder. Que tal valorizarmos o que nos faz únicos? Nossa capacidade de sentir, de se emocionar, de criar sem lógica, de amar sem razão, de sonhar acordados.

A pausa necessária

O futuro não é algo que acontece conosco. É algo que criamos. A cada escolha, a cada decisão, a cada momento em que decidimos ser humanos em vez de eficientes. Podemos ter tecnologia e humanidade. Podemos ter IA e alma. Podemos ter progresso e presença. Mas isso exige consciência. Exige que paremos, respiremos e perguntemos: que tipo de humanos queremos ser?

Porque no final das contas, quando todas as máquinas estiverem funcionando perfeitamente, quando todos os problemas estiverem resolvidos, quando tudo estiver otimizado, ainda restaremos nós. Nossos corações. Nossas lágrimas. Nossos abraços. Nossa capacidade infinita de amar e ser amados.

E isso, nenhuma máquina pode fazer por nós.

Então eu te convido a uma pausa. Uma pausa nessa correria toda. Uma pausa para sentir seu corpo, para ouvir sua respiração, para se conectar com você mesmo. Te convido a olhar para as crianças ao seu redor e perguntar: que mundo estamos criando para elas? Que tipo de humanos estamos formando?

Te convido a resistir gentilmente. A escolher a presença sobre a produtividade. A contemplação sobre a otimização. A humanidade sobre a eficiência. Porque ser humano, na era das máquinas, pode ser o ato mais revolucionário de todos. E talvez seja exatamente isso que o mundo precisa: de mais humanidade, não de menos.

“A questão não é se as máquinas pensam, mas se os humanos ainda o fazem.” — B.F. Skinner

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Sobre a autora

Leila Navarro é especialista em Saúde Integral, Liderança Sensorial e Cultura Regenerativa. Criadora dos conceitos de Ergonomia Sensorial, Inteligência Sensorial e Liderança Presente. Atua em empresas e eventos no Brasil e no exterior, unindo ciência, neurociência e experiência prática para provocar a reconexão entre corpo, emoção, propósito e tecnologia.

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