Por Leila Navarro
Diversas previsões são anunciadas no início de cada ano e, particularmente em 2017, uma chamou a minha atenção pela forma com que me deparei com uma informação. Num país em que o número de “nem, nem” (nem estudam, nem trabalham) cresceu assustadoramente nos últimos anos, grupos de Pessoas Tragicamente Desinteressadas – PDT mostram que não é só a economia nacional que está precisando de ajustes. Tem muito profissional por aí se considerando o centro do universo e não enxerga as consequências de suas atitudes com relação à própria carreira.
Logo no início do ano, estava eu normalmente agitada com o turbilhão de ideias que surgem em minha mente – e tantas outras que eu provoco – e me deparei com um profissional reclamando porque a empresa em que trabalha não deu um dia sequer de folga a mais entre as festas de final de ano e, como teve que ficar “às moscas”, aproveitou o tempo para fazer o planejamento do ano. A princípio fiquei admirada com o empenho do profissional, mas percebi algo contraditório na sua informação. Se o tempo livre rendeu um planejamento para o ano, por que então ele reclamava dos dias em que os gestores da empresa não liberaram os colaboradores. Não me contive e perguntei qual o motivo da reclamação já que tinha a oportunidade de planejar o seu trabalho, como ser mais produtivo e eficiente frente aos desafios que estariam por vir.
A resposta quase me paralisou: “Não Leila, eu programei cada uma as viagens que vou fazer em cada feriado prolongado que teremos no decorrer do ano”. Tudo bem que não há mal algum aproveitar os dias de folga para descansar ou se divertir. Momentos de lazer são necessários para a boa produtividade de um profissional. A questão é quando os interesses de uma pessoa giram apenas em prol do seu próprio bem-estar. Bem disse Napoleão Bonaparte que “todo homem luta com mais bravura pelos seus interesses do que pelos seus direitos”. Eu estava diante de um exemplo típico à minha frente.
Em algumas de minhas palestras eu mostro como funciona a dança das cadeiras do século XXI. Nessa nova composição, diferente da tradicional em que sempre faltava um assento e sobrava uma pessoa, o número de cadeiras é reduzido, mas todos se doam, se integram e ganham. Não existe perdedor desde que todos tenham foco no mesmo propósito. O tal profissional que programava suas viagens em horário de expediente e, ainda dava como garantido um aumento do salário e a estabilidade do emprego, não tem noção da realidade no mundo corporativo em plena era da revolução tecnológica. Ele faz parte do grupo das Pessoas Tragicamente Desinteressadas.
Para se dizer integrado às atuais exigências do mundo corporativo, além de considerar atentamente suas habilidades, talentos e competências, é necessário que o profissional tenha um planejamento estruturado para onde está se movendo e como adequar-se à realidade da empresa que trabalha ou da gestão do seu negócio. As Pessoas Tragicamente Desinteressadas correm sério risco de serem “varridas” do mercado, sem oportunidades de desenvolvimento se não encontrarem logo um propósito e um sentido de vida que vá além de seu próprio prazer. O êxito ou o fracasso na carreira podem não surgir de grandes habilidades ou incompetência e sim de circunstâncias fortuitas que desencadeiam no despreparo diante dos desafios. O profissional que anseia se manter integrado à realidade do mercado e alcançar sucesso deve vigiar o seu comportamento, ser integralmente ético, correto e focado em seu autodesenvolvimento. Caso contrário, o período involuntário de “descanso” pode desencadear em uma condição trágica.
Leila Navarro é palestrante motivacional há 18 anos e integra o ranking dos 20 maiores palestrantes do Brasil segundo a Revista Veja. Única mulher ganhadora do prêmio Top Of Mind na categoria “Palestrante”. www.leilanavarro.com.br