Por Leila Navarro,
Seguir na vida sem confiança é impossível. É como estar aprisionado na pior de todas as celas – você mesmo. Graham Greene
Por que falar de confiança em um mundo onde reina a desconfiança? Pelo mesmo motivo porque se fala de água quando se está com sede ou de saúde quando se está doente. Muitas vezes, só falamos de alguma coisa quando sentimos que ela nos falta. Assim acontece com a confiança.
Tem sido complicado viver sem ela. O mundo parece cada vez mais ameaçador à nossa segurança, e precisamos tomar uma série de precauções para nos defender. Não atendemos telefonemas a cobrar, suspeitamos das mensagens de e-mail, andamos em carros de vidros escuros, precisamos saber com quem nossos filhos saem. Em tudo que se refere a pessoas desconhecidas, desconfiar é a regra – e essa regra também se volta contra nós. Incontáveis olhos eletrônicos nos espreitam aonde estivermos: no supermercado, no elevador do prédio, no posto de gasolina, na rua. Somos revistados nos aeroportos, passamos por detetores de metais nas portas dos bancos. Há muito deixamos de ser cidadãos acima de qualquer suspeita. Aliás, hoje todos são cidadãos sob suspeita.
No ambiente de trabalho a desconfiança costuma ser mais disfarçada, mas nem por isso deixa de existir. A intensa competição por poder e ascensão na hierarquia das empresas faz do colega da mesa ao lado nosso adversário em potencial e do chefe, um obstáculo a ser transposto. Somos cooperativos, participativos e comprometidos como querem as organizações? Sim, sim, pero no mucho. Afinal, no mundo corporativo, onde reina a lei do cada um por si, não compartilhar tudo que se tem, não dizer tudo que se sabe e não acreditar em tudo que se ouve são estratégias de sobrevivência. E poderia ser diferente, se a própria organização também dá a entender que não confia completamente em nós? Se confiasse não haveria tantos controles, regras e procedimentos para seguirmos.
Como se isso não bastasse, a tônica do mundo moderno é a mudança em ciclos cada vez mais curtos. O que é hoje poderá não ser mais amanhã; tudo se transforma de uma hora para outra, provocando ansiedade e incerteza quanto ao futuro. Nossa falta de confiança se volta contra instituições, planos, governos, projetos, acordos – e até contra nós mesmos, que também somos afetados pela velocidade das mudanças e muitas vezes duvidamos de nossa capacidade de nos adaptar às novas circunstâncias para continuar tendo sucesso ou simplesmente sobreviver. É preciso ficar atento, pois até naquilo que parece insuspeito pode haver algum tipo de ameaça à nossa estabilidade e segurança.
Nesse contexto, falar de confiança realmente parece contradição, já que confiar implica abrir mão de nossas defesas e controles, colocar nossos recursos à disposição do outro e acreditar que ele não se utilizará disso para levar vantagem sobre nós nem nos prejudicar. Significa acreditar nos discursos e promessas que nos fazem, e isso é tudo que não queremos!
Ocorre que tanta de falta de confiança, que se expressa na atitude da desconfiança, tem sérios efeitos colaterais. A desconfiança isola as pessoas, impede que experimentem e arrisquem, restringe sua expansão. Ao limitar o crescimento pessoal e profissional dos indivíduos, acaba também comprometendo os resultados das organizações, que cada vez mais necessitam de pessoas dispostas a assumir riscos, abertas a novas experiências, criativas, entusiasmadas e com iniciativa. Desconfiança é, enfim, um jogo de soma negativa, no qual não há ganhadores. Ou melhor, no qual todos perdem: perde quem desconfia, perde quem é alvo de desconfiança. Mas será que as coisas podem continuar assim? Nós dois estamos convictos de que não.
Neste livro, defendemos a tese de que a confiança precisa ser resgatada e apontaremos alguns dos vários caminhos que podem levar a isso, pois entendemos que ela é fator decisivo para a performance dos profissionais e das organizações no mundo globalizado. Na dimensão individual, a confiança predispõe a sonhar com objetivos mais elevados, ousar, enfrentar desafios, assumir riscos, desenvolver-se, expandir-se. Na dimensão organizacional, estimula as pessoas a relacionar-se de maneira mais aberta e franca, compartilhar experiências e conhecimentos, comprometer-se com os objetivos da empresa, engajar-se na solução de problemas e participar dos processos decisórios.
Ante a realidade que vivemos, confiar é o oposto daquilo que o senso comum nos aconselha a fazer, é nadar contra a corrente. Mas por incrível que possa parecer, é justamente nadando contra a corrente que podemos chegar mais rápido e com menos esforço aos nossos objetivos.