Que vivemos numa era em que o sucesso, a força, a felicidade, a velocidade, o prazer e o progresso são super valorizados, isso é fato. A grande maioria das pessoas foca em seus objetivos e busca atingi-los a todo custo. Outras, nem tem objetivos, mas não deixam de viver uma vida frenética. E, nessa corrida maluca, muita gente não tem tempo nem para entender seus próprios sentimentos e, por isso, acaba cometendo um desrespeito grande consigo mesmo. Um dos grandes erros que acontece hoje, no mundo moderno, é confundir tristeza com depressão, o que é sério e perigoso. Por isso considero importante nos determos um tempo para reconhecer as nossas próprias emoções.
Chegamos a um ponto em que estar triste tornou-se completamente inadequado e, quando isso acontece, lá vem alguém sugerindo algumas alternativas como, um “prozaquezinho”, um “baseadozinho”, uma balada, muita bebida… o importante é endorfinar! Uau! Existe uma urgência para sair da tristeza e para isso se recorre às alternativas mais rápidas e “fáceis”. Até os poetas confirmam isso. Cazuza em seus versos registra que pega mal sofrer. Roberto Carlos diz que “não quero te ver tão triste assim”.
Muitos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Parece que não querem compreendê-la. Precisam disfarçá-la, sufocá-la, pois buscam exaltar o “oba-oba” e sempre se desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius de Moraes), mas melhor mesmo é ninguém se privar de sentir o que realmente sente. Chegamos a um ponto que não nos permitimos estar abaixo da euforia. E assim fica bem difícil. Precisamos resgatar o lado belo da tristeza que não tem nada a ver com a depressão.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) a depressão é uma doença que afeta mais de 350 milhões de pessoas de todas as idades, gêneros, etnias. Vincent van Gogh, um pintor pós-impressionista neerlandês, considerado um dos maiores de todos os tempos, sofria de depressão e cometeu suicídio. Depressão não é tristeza excessiva, é doença. Um dos principais problemas de quem sofre com esta doença é acreditar que ela vai desaparecer por conta própria ou assumir que o mal-estar é permanente e faz parte da personalidade. Segundo o psiquiatra Ricardo Alberto Moreno, professor doutor do Instituto de Psiquiatria da USP, a insônia, ansiedade, perda de apetite, compulsão por perfeccionismo, variação de humor, solidão, quando passam a atrapalhar a rotina da pessoa, surgindo como fatores limitantes pode ser sinal de depressão, mas, mesmo assim é necessário o diagnóstico de um especialista.
A tristeza faz parte da vida e até nos coloca no prumo quando permitida no seu tempo. Não estou fazendo apologia à tristeza, nada disso! Mas é importante compreendermos que o desejo de ficar só, de manter o silêncio interior, de aquietar a mente, os ânimos e manter-se introspectivo deveria ser encarado como um momento de autoconhecimento, de nos suportarmos e crescermos como seres humanos mergulhando em nossa própria dor, nos permitindo ir fundo no próprio sentimento. Isso não é masoquismo quando feito de forma consciente. Aliás é muito mais sadio emocionalmente do que anular o sentimento substituindo-o forçadamente por outra emoção apenas para fugir desse momento. Abaixo a ditadura da alegria!
Sou uma pessoa feliz, super alto-astral, de bem com a vida. Rir é o melhor remédio, a vida é linda e é para ser vivida intensamente e, por isso, devemos encarar a dor, a tristeza como uma forma de crescer, amadurecer e evoluir. Precisamos aprender a nos respeitar, afinal, tem dias que não estamos para samba, para rock, para hip-hop, e nem por isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção. Quanto maior é a coerência entre o que sentimos e vivemos, maior será o estado de confiança interior. Quietude é armazenamento de força e sabedoria. Então, vamos tirar proveito dos momentos de tristeza. Daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.
